Constituição de identidades da mulher em livros didáticos de português do ensino médio
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Universidade Federal de Catalão
Resumo
Nesta pesquisa, partimos da perspectiva de que a prática escolar é historicamente construída e, além de produzir e transmitir conhecimentos, também (des)constrói e legitima identidades na história, em relação, por exemplo, aos papéis de gêneros instituídos para a mulher e para o homem na sociedade (BUTLER, 2003; LOURO, 2008; SCOOTT, 1995). Ademais, considera-se que essa construção implica determinadas relações de poder, inscritas nas mais diversas práticas e instrumentos usados pela instituição, como os livros didáticos (MARCUSHI E LEDO, 2015; MOITA LOPES, 2002). O objetivo geral consistiu em descrever e analisar o modo como são evidenciadas identidades de gênero em livros didáticos de português. Como objetivos específicos, buscamos verificar regularidades referentes à maneira como os manuais didáticos operam na representação de identidades de gênero e examinar quais relações de poder estão inscritas nessas práticas discursivas escolares. O corpus de análise foi constituído de livros didáticos adotados no 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio, pertencentes a diferentes coleções, sendo três exemplares para cada uma das três séries distintas. Foram analisados livros das três coleções mais adotadas em escolas públicas do estado de Minas Gerais, segundo dados da Secretaria Estadual de Educação. A nossa hipótese é a de que os livros didáticos de português recortam padrões de gênero para os corpos, delimitando identidades (im)possíveis para os sujeitos a partir de exercícios, textos e autores. Por um lado, levantamos a proposição de que regularidades e dispersões discursivas estruturam discursos sobre/para os corpos e que estão envoltos em redes de poder que determinam o que eles podem e devem fazer nas práticas sociais. E, por outro lado, considerou-se que a própria materialidade dos manuais comporta instâncias de resistência a partir do questionamento, por exemplo, dos comportamentos atribuídos às mulheres ao longo da história na sociedade brasileira. A análise dos dados foi realizada a partir do quadro teórico-metodológico da Análise do Discurso, mais especificamente dos postulados de Michel Foucault (1987; 1992), estabelecendo o exercício de descrição e análise dos enunciados, selecionados a partir dos objetivos propostos. Os resultados mostraram uma movência sistemática entre reconhecimento e conservadorismo, ambos referentes a condições sociais relacionadas à constituição de identidades das mulheres. No segundo capítulo, o traço de reconhecimento pode ser percebido com a presença de autoras e textos que tratam especificamente dessas referidas condições. Já o aspecto conservador, emerge de uma discrepância significativa entre a quantidade de autores e a de autoras de produções literárias. No terceiro capítulo, o reconhecimento dessas questões foi observado em um conjunto de materialidades linguistico-visuais em que são representadas práticas de resistência realizadas por personagens. A corroborar a referida movência de sentidos, nessas materialidades, sobressaem, também, representações de mulheres em situações e lugares socio-historicamente cristalizados.