O humor discursivo como estratégia de luta política: uma análise bakhtiniana da construção do diálogo com Mafalda

Abstract

Esta pesquisa resulta da análise da manifestação do riso em Mafalda, personagem criada por Quino. A base teórica para a investigação é composta por conceitos de Bakhtin e o Círculo: riso, enunciado, ideologia e voz social (Bakhtin, 2011, 2022; Volóchinov, 2018, 2019; Medviédev, 2019), além de uma breve articulação com a filosofia da diferença a partir do conceito de máquina de guerra (Deleuze; Guattari, 2012). Efetuamos uma análise qualitativa, a partir do método sociológico. O riso é um manifesto da cultura popular e marca embates entre cultura não-oficial em distinção da cultura oficial (Bakhtin, 2010). Nossa tese mira Mafalda e seu riso enquanto artifício de luta política. O riso é parte de um exercício revolucionário na construção de consciências mais emancipadas. Efetuamos um batimento entre enunciado e questões históricas e políticas da vida cotidiana. Analisamos tirinhas de Mafalda, compreendendo sua relativa popularidade no mundo. Comparamos a personagem com outra personagem, Rê Bordosa, considerando aproximações dos risos de cada uma. Nossa pesquisa se justifica pelo seu apelo democrático. Como objetivo buscamos compreender o funcionamento do riso nas tirinhas de Mafalda. Os objetivos específicos: a) descrever o conteúdo do corpus; b) identificar vozes sociais de Toda Mafalda (2013); c) analisar o contexto e processo de construção do riso em Mafalda; d) interpretar e comparar dados das personagens Mafalda e Rê Bordosa. Nossos resultados mostram que o riso apresentado pela personagem é um elemento primário gerador de ironia. Os componentes verbovisuais, ambiente, personagens articulam de forma orgânica e singular em cada tirinha. A personagem Mafalda estabelece um diálogo maiêutica. Seu riso político é pautado na ética e visa uma interação mais humanizada, orientada para desconstrução da estrutura da sociedade ocidental contemporânea. Sua crítica para a realidade social aponta para a construção de democracia nova, pois o Estado atual está tomado pela perspectiva autoritária.